terça-feira, 24 de novembro de 2009

Filosofar é semelhante a tentar arrumar um quarto



Por Samir Bezerra Gorsky

Para entendermos a atividade dos filósofos basta pensarmos em nosso próprio quarto. Quando somos muito novos não sabemos os significados dos conceitos e nem temos condições de arrumar o nosso próprio quarto. Conforme crescemos, começamos a aprender as coisas, começamos a aprender a arrumar o nosso próprio quarto. A história da filosofia mostra como a espécie humana tem aprendido a arrumar o seu próprio quarto.

Se uma meia está em cima da cama então é possível que um de nossos pais diga que ela está fora do lugar. Para que a meia esteja fora do lugar é necessário que exista um lugar certo e diferente do lugar ocupado atualmente pela meia. O filósofo tenta organizar a realidade da mesma forma que uma pessoa tenta organizar o seu quarto. O quarto do filósofo é a sua teoria sobre a realidade e os objetos que estão nesta realidade são análogos aos objetos que estão no quarto.

É possível que um dia, ao entrar no quarto você tire sua meia e seus sapatos dos pés e não os guarde indo direto ao computador. Você dá uma olhada no relógio e já são 16hs. Você olha novamente o relógio e pá...22hs. Aos poucos vem o sono e você vai dormir sem ter arrumado o que você desarrumou. Esse comportamento pode se repetir até chegar a um ponto em que dizemos que o quarto está um caos. A palavra caos é bem sugestiva. A mitologia grega apresenta o caos como sendo uma entidade primordial, ou seja, antes de qualquer ordem. O que está completamente desorganizado é caótico. Platão usa um mito para descrever a sua teoria sobre a origem do universo. O deus que o criou usou a razão e uma matéria caótica. Ao unir os dois princípios, a matéria e a razão, ele deu origem ao mundo que continuou possuindo as duas características: a ordem e o caos. Para o deus, cujo nome é Demiurgo, criar o mundo e organiza-lo é a mesma coisa.

As revoluções podem ser analisadas com o uso deste mesmo enquadramento ou estrutura. Se ao arrumar um quarto uma pessoa esteja com pressa ou não saiba o lugar certo das coisas e por isso não coloque os objetos em seus devidos lugares, então a arrumação do quarto é apenas aparente. Daí alguns problemas práticos podem surgir como, por exemplo, não se encontrar o que se procura. Temos, neste caso uma situação de crise.




Vamos supor agora que se faça um mutirão para reorganizar o quarto. Este processo é semelhante ao processo de revolução observado em vários níveis do entendimento e da atividade humanas. Da mesma forma as crises podem preceder revoluções como se observa na história da ciência, da política ou mesmo da humanidade como um todo. Primeiramente todas as coisas são tiradas das gavetas e armários e dispostas aleatoriamente pelo quarto. Depois, analisando cada coisa e a disposição dos móveis com o objetivo de se planejar o lugar mais adequado para cada objeto. Objetos supérfluos devem ser jogados descartados. Objetos mais utilizados devem ser colocados em lugares acessíveis e objetos menos utilizados nos lugares restantes. Objetos semelhantes ou próximos de algum modo devem ser guardados, de preferência em lugares próximos.

Todavia cada pessoa pensa de maneira diferente e por isso possui uma idéia diferente de arrumação de quarto. Pode-se, dentro deste mutirão, surgir disputas e problemas com relação à arrumação mais adequada para este cômodo.

Portanto uma revolução acontece quando não há uma arrumação dos conceitos ou quando estes não servem mais ou estão mal organizados. Várias pessoas tentam reorganizar a realidade em um relativamente curto período de tempo de modo a se obter novamente uma ordem acerca da realidade. Por questões as mais diversas (ver Khun, a estrutura das revoluções científicas) são escolhidas umas organizações em detrimento de outras e daí quase todos os setores passam a concordar com este paradigma e passam então a agir conforme ele até que uma outra crise seja capaz de promover uma nova revolução.



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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sobre ser demasiado humano



Por Samir Bezerra Gorsky

A natureza humana? A cultura? Não, o ser humano é bem mais simples do que parece. Basta organizarmos melhor o discurso. A complexidade, as inconsistências surgem a partir da confusão entre o que é dito e o que é feito. Às vezes o que é dito e o que é feito são coerentes; outras, não. Não existe nem nunca existiu princípio ético para o ser humano. Nunca existirá coisa assim. O bizarro é que alguns que se acham bons o bastante acabam tentando serem bons de fato, mas, como é de se esperar, falham e falham feio. Não é a sociedade que está de cabeça para baixo, é o discurso sobre a sociedade que apresenta defeitos. O axioma é: O ser humano é imperfeito. A partir deste axioma, os teoremas são demonstrados com naturalidade e tudo o que era complexo sobre o ser humano se mostra com uma impressionante simplicidade. Outra idéia descritiva e explicativa acerca da essência humana é: O ser humano jamais será perfeito.



O que acontece com a nossa sociedade (e com todas as outras também) é fruto de uma confusão acerca do discurso sobre o ser humano. O discurso mais satisfatório é aquele que concatena o que o ser humano é e aquilo que faz parte de seus pensamentos.




O conceito central é o de poder. Poder e violência são conceitos bastante próximos. Todo ser humano quer algum tipo de poder, isto é conseqüência de sua imperfeição. O poder é necessário para o controle da violência. Só pode usar a violência quem possui o poder. O indivíduo, porém, jamais será mais forte do que a sociedade, pois a sociedade é a personificação de um indivíduo coletivo. Quem possui mais controle sobre a sociedade possui também mais poder. Todos querem algum tipo de poder. Logo, os seres humanos estão em competição (guerra) uns com os outros. Todavia, a sociedade é mais forte do que o indivíduo. Daí é ruim tratar o próximo com desrespeito. Conclui-se disso que o ser humano deve aprender a usar suas relações sociais para conseguir poder. E usar o poder para conseguir mais poder.
Isso é bom, ou mau? É inadequado caracterizar esse aspecto como sendo bom ou mau. Diremos apenas que é humano.



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