terça-feira, 24 de novembro de 2009

Filosofar é semelhante a tentar arrumar um quarto



Por Samir Bezerra Gorsky

Para entendermos a atividade dos filósofos basta pensarmos em nosso próprio quarto. Quando somos muito novos não sabemos os significados dos conceitos e nem temos condições de arrumar o nosso próprio quarto. Conforme crescemos, começamos a aprender as coisas, começamos a aprender a arrumar o nosso próprio quarto. A história da filosofia mostra como a espécie humana tem aprendido a arrumar o seu próprio quarto.

Se uma meia está em cima da cama então é possível que um de nossos pais diga que ela está fora do lugar. Para que a meia esteja fora do lugar é necessário que exista um lugar certo e diferente do lugar ocupado atualmente pela meia. O filósofo tenta organizar a realidade da mesma forma que uma pessoa tenta organizar o seu quarto. O quarto do filósofo é a sua teoria sobre a realidade e os objetos que estão nesta realidade são análogos aos objetos que estão no quarto.

É possível que um dia, ao entrar no quarto você tire sua meia e seus sapatos dos pés e não os guarde indo direto ao computador. Você dá uma olhada no relógio e já são 16hs. Você olha novamente o relógio e pá...22hs. Aos poucos vem o sono e você vai dormir sem ter arrumado o que você desarrumou. Esse comportamento pode se repetir até chegar a um ponto em que dizemos que o quarto está um caos. A palavra caos é bem sugestiva. A mitologia grega apresenta o caos como sendo uma entidade primordial, ou seja, antes de qualquer ordem. O que está completamente desorganizado é caótico. Platão usa um mito para descrever a sua teoria sobre a origem do universo. O deus que o criou usou a razão e uma matéria caótica. Ao unir os dois princípios, a matéria e a razão, ele deu origem ao mundo que continuou possuindo as duas características: a ordem e o caos. Para o deus, cujo nome é Demiurgo, criar o mundo e organiza-lo é a mesma coisa.

As revoluções podem ser analisadas com o uso deste mesmo enquadramento ou estrutura. Se ao arrumar um quarto uma pessoa esteja com pressa ou não saiba o lugar certo das coisas e por isso não coloque os objetos em seus devidos lugares, então a arrumação do quarto é apenas aparente. Daí alguns problemas práticos podem surgir como, por exemplo, não se encontrar o que se procura. Temos, neste caso uma situação de crise.




Vamos supor agora que se faça um mutirão para reorganizar o quarto. Este processo é semelhante ao processo de revolução observado em vários níveis do entendimento e da atividade humanas. Da mesma forma as crises podem preceder revoluções como se observa na história da ciência, da política ou mesmo da humanidade como um todo. Primeiramente todas as coisas são tiradas das gavetas e armários e dispostas aleatoriamente pelo quarto. Depois, analisando cada coisa e a disposição dos móveis com o objetivo de se planejar o lugar mais adequado para cada objeto. Objetos supérfluos devem ser jogados descartados. Objetos mais utilizados devem ser colocados em lugares acessíveis e objetos menos utilizados nos lugares restantes. Objetos semelhantes ou próximos de algum modo devem ser guardados, de preferência em lugares próximos.

Todavia cada pessoa pensa de maneira diferente e por isso possui uma idéia diferente de arrumação de quarto. Pode-se, dentro deste mutirão, surgir disputas e problemas com relação à arrumação mais adequada para este cômodo.

Portanto uma revolução acontece quando não há uma arrumação dos conceitos ou quando estes não servem mais ou estão mal organizados. Várias pessoas tentam reorganizar a realidade em um relativamente curto período de tempo de modo a se obter novamente uma ordem acerca da realidade. Por questões as mais diversas (ver Khun, a estrutura das revoluções científicas) são escolhidas umas organizações em detrimento de outras e daí quase todos os setores passam a concordar com este paradigma e passam então a agir conforme ele até que uma outra crise seja capaz de promover uma nova revolução.



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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sobre ser demasiado humano



Por Samir Bezerra Gorsky

A natureza humana? A cultura? Não, o ser humano é bem mais simples do que parece. Basta organizarmos melhor o discurso. A complexidade, as inconsistências surgem a partir da confusão entre o que é dito e o que é feito. Às vezes o que é dito e o que é feito são coerentes; outras, não. Não existe nem nunca existiu princípio ético para o ser humano. Nunca existirá coisa assim. O bizarro é que alguns que se acham bons o bastante acabam tentando serem bons de fato, mas, como é de se esperar, falham e falham feio. Não é a sociedade que está de cabeça para baixo, é o discurso sobre a sociedade que apresenta defeitos. O axioma é: O ser humano é imperfeito. A partir deste axioma, os teoremas são demonstrados com naturalidade e tudo o que era complexo sobre o ser humano se mostra com uma impressionante simplicidade. Outra idéia descritiva e explicativa acerca da essência humana é: O ser humano jamais será perfeito.



O que acontece com a nossa sociedade (e com todas as outras também) é fruto de uma confusão acerca do discurso sobre o ser humano. O discurso mais satisfatório é aquele que concatena o que o ser humano é e aquilo que faz parte de seus pensamentos.




O conceito central é o de poder. Poder e violência são conceitos bastante próximos. Todo ser humano quer algum tipo de poder, isto é conseqüência de sua imperfeição. O poder é necessário para o controle da violência. Só pode usar a violência quem possui o poder. O indivíduo, porém, jamais será mais forte do que a sociedade, pois a sociedade é a personificação de um indivíduo coletivo. Quem possui mais controle sobre a sociedade possui também mais poder. Todos querem algum tipo de poder. Logo, os seres humanos estão em competição (guerra) uns com os outros. Todavia, a sociedade é mais forte do que o indivíduo. Daí é ruim tratar o próximo com desrespeito. Conclui-se disso que o ser humano deve aprender a usar suas relações sociais para conseguir poder. E usar o poder para conseguir mais poder.
Isso é bom, ou mau? É inadequado caracterizar esse aspecto como sendo bom ou mau. Diremos apenas que é humano.



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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Os fios e os fiadores

Por Samir Bezerra Gorsky

O que me interessa, acima de tudo, é o conhecimento. Estudar e desenvolver teorias de maneira satisfatória. Mas especificamente, me interessa a maneira como as pessoas percebem a sua própria vida, ou seja, a maneira como as pessoas enxergam o que é dito verdadeiro. Interessa-me o que as pessoas pensam sobre o que é a filosofia e o que elas valorizam de fato em seu íntimo. Interessa-me mostrar que a realidade que é vendida todos os dias e a toda hora não é a única nem a melhor realidade possível. Alias nossas opiniões sobre todas as coisas não é nem jamais será conhecimento sobre todas as coisas. Deus é um eterno desconhecido, porém digno do respeito que até mesmo os ateus lhe conferem. O mais complicado é perceber que as pessoas em geral não percebem que elas são livres. Elas não percebem a própria liberdade. Não interessa aos criadores das regras que os jogadores possam fazer certas escolhas. “Pode-se sempre escolher”. Esse é o axioma que os chefes guardam a sete chaves. Filosofar = ser livre.

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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Erros e acertos

"Os acertos são exemplos
os erros são lições
A proporção atual tem sido: um exemplo para cada 10 lições"

Samir Gorsky

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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Educação (Platão)

Estrangeiro — E como designaremos a parte do ensino que nos livra da ignorância?
Teeteto — Eu, de mim, Estrangeiro, acho que a parte restante tem o nome de ensino profissional; a outra, pelo menos entre nós, é denominada educação.
Estrangeiro — O mesmo se observa, Teeteto, entre os demais helenos. Porém ainda nos falta considerar se a educação é um todo indivisível ou se comporta alguma divisão merecedora de nome especial?
Teeteto — Falta isso, realmente.
XVII — Estrangeiro — Quer parecer-me que neste ponto ela é divisível.
Teeteto — Onde?
Estrangeiro — No ensino pelo discurso, ao que parece, há um trecho mais áspero e outro mais liso.
Teeteto — E que qualificativo lhes daremos?
Estrangeiro — Um deles é o método vetusto e venerável que nossos pais geralmente seguiam na educação dos filhos, e que ainda hoje muitos adotam quando os vêem cometer alguma falta, misto moderado de reprimenda e advertência, e que no todo poderia ser chamado exortação.
Teeteto — Isso mesmo.
Estrangeiro — Por outro lado, depois de maduras reflexões, há os que opinam que toda ignorância é involuntária e que nenhum dos que se julgam sábios se dispõe a aprender seja o que for daquilo em que se considera forte. Assim, com todo seu trabalho, o método educativo pela admoestação alcança resultados medíocres.
Teeteto — Pois têm razão de pensar dessa maneira.
Estrangeiro — Daí, adotarem outro processo para se livrarem de semelhante presunção.
Teeteto — Qual é?
Estrangeiro — Formulam uma série de perguntas sobre assunto em que o interlocutor pensa responder com vantagem, quando a verdade é que não diz coisa com coisa; depois, aproveitando-se de sua desorientação lhe rebatem facilmente as opiniões, que eles amontoam na crítica a que as submetem e, confrontando umas com as outras, mostram como se contradizem sobre os mesmos objetos em idênticas relações e igual sentido. Os que se vêem assim confundidos, acabam por desgostar-se de si próprios e passam a mostrar-se mais dóceis com relação aos outros; isso os livra do exagerado conceito que faziam deles mesmos, o que, de todas as liberações, é a mais agradável de se ouvir e a de melhor efeito para o interessado. O que se dá, meu caro menino, é que esses purificadores pensam exatamente como os médicos do corpo, os quais acreditam que o corpo não tira benefício algum dos alimentos sem primeiro remover alguém o que o perturba. O mesmo pensam aqueles a respeito da alma, que não pode colher vantagem dos ensinamentos ministrados, enquanto não for submetida a crítica rigorosa e a refutação não a fizer enrubescer de vergonha, com livrá-la das falsas opiniões que servem de obstáculo ao conhecimento e, assim purificada, levá-la à convicção de que só sabe o que realmente sabe, nada mais do que isso.
Teeteto — Sem dúvida; essa é a melhor e mais sábia disposição.
Estrangeiro — Por isso mesmo, Teeteto, devemos dizer que a refutação é a maior e mais eficiente purificação, sendo forçoso concluir que o indivíduo que se eximir a esse processo, ainda mesmo que se trate do grande Rei, é impuro no mais alto grau, ignorante e deformado naquilo em que deveria mostrar-se mais extreme e mais belo, caso queira alcançar a verdadeira felicidade.
Teeteto — Perfeitamente.

Platão. Sofista 229-231a

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Ignorância

"Nada saber e crer que se sabe; temo que aí esteja a causa de todos os erros aos quais o pensamento de todos nós está sujeito"

Estrangeiro (Platão, Sofista 229c)

Samir Bezerra Gorsky

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Exercícios para o pensamento

a) Faça uma redação com o seguinte tema:

tudo o que eu percebo a minha volta.

b) Faça uma leitura sobre a monadologia de Leibniz.

Todas as mônadas percebem, algumas tem consciência disto e poucas possuem conhecimento. (Reale & Antiseri. História da filosofia vol. 4 pp45 ss).

c) Por que duas pessoas produzem descrições diferentes diante de um mesmo objeto? (colocar a questão Leibniziana da "identidade dos indiscerníveis".
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Obras de Aristóteles

"...a chamada obra de Aristóteles. E dizemos intencionalmente a chamada obra porque é impossível admitir que uma tão grande soma de conhecimentos, de reflexões, de observações e experiências, de trabalhos científicos e monográficos, pudesse ser realizada por um só homem cuja vida não foi além dos sessenta e dois anos. Esse trabalho só poderia ser realizado por vários, embora vigorosamente animado e dirigido por um."

Sant'Ana Dionísio, Pedagogia Culminante dos Gregos, 1962

A obra literária de Aristóteles pode repartir-se em duas classes: as esotéricas, escritas para o público em geral, e as acromáticas, escritas para um círculo limitado composto por todos aqueles que estivessem familiarizados com o pensamento da escola de Aristóteles. Estão nesta última classe os Diálogos, dos quais os mais conhecidos são Eudemo, três livros Sobre a Filosofia, quatro livros Sobre a Justiça, e ainda os tratados, não sob a forma de diálogos, e infelizmente perdidos, Sobre o Bem e Sobre as Ideias. Podem ainda referir-se nesta categoria, Poemas, Cartas, Orações, Apologia havendo dúvidas quanto à sua efectiva autoria.

À classe dos escritos acroamáticos, pertencem todos os outros trabalhos, alguns dos quais que se perderam, nomeadamente alguns tratados de anatomia e uma colectânea das diferentes constituições políticas dos estados gregos, tendo, no entanto, uma parte deste, que descreve a constituição de Atenas, sido descoberto num papiro egípcio publicado em 1891.

Os trabalhos restantes , cujos títulos se apresentam em latim, podem dividir-se em:

Tratados de Lógica:

Categorias
De Interpretatione
Analytica Priora, 2 livros
Analytica Posteriora, 2 livros
Topica, 8 livros
De Sophisticis Elenchis


· Tratados metafísicos

Metaphysica, inicialmente intitulado por Aristóteles de Prote Philosophia (Primeira Filosofia), constituída por 14 livros.

· Tratados de Física:

Physica, 8 livros
De Coelo, 4 livros
Meteorologica, 4 livro


· Tratados de Biologia e Zoologia:

Historiae animalium, 9 livros
De Generation et Corruption, 2 livros
De Generatione Animallium, 5 livros
De Partibus Animalium, 4 livros


· Tratados de Antropologia e Psicologia:

De Anima
De Sensu et Sensibili
De Memoria et Reminiscentia
De Vita et Morte
De Longitudine et Brevitate vitae


· Tratados de Política e Ética:

Ethica Nichomachea
Politica, 8 livros


· Tratados de Poesia e Retórica:

Poética
Retórica

Destes trabalhos, alguns foram escritos na sua forma actual e são exposições científicas escritas com esse intuito por Aristóteles. Outros, embora também escritos por Aristóteles, resultam de notas de apoio às aulas do liceu para serem complementadas oralmente durante as mesmas. Algumas notas terão sido, provavelmente, escritas por discípulos de Aristóteles, sem qualquer intervenção do mestre.

Manuscrito de Aristóteles

A biblioteca de Aristóteles, incluindo os manuscritos dos seus próprios trabalhos, foi legada a Teofrasto, que o sucedeu no Liceu, o qual, por sua vez deixou esse legado ao seu herdeiro Neleu de Scepsis. Após a morte de Neleu, os manuscritos foram escondidos, e assim permaneceram durante cerca de dois séculos, até que Sila os descobriu e os trouxe para Roma, onde foram copiados por volta de 70 d.C.

Samir Bezerra Gorsky
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Obras de Platão

A obra de Platão é uma jóia da literatura de todos os tempos e um monumento filosófico de valor eterno. As questões postas, dizendo respeito á conduta ética e política dos atenienses, ao seu comportamento como indivíduos e em sociedade, gozam da maior pertinência vinte e quatro séculos depois. A sua finalidade é sempre a busca da verdade por meio da dialéctica.


Na grande maioria dos diálogos, a figura central é Sócrates, que interroga, argumenta e discute com um vasto leque de personagens, na maioria dos casos sofistas ou figuras que representam a estrutura da cidade. Alguns deles são expressamente dedicados ao mestre, quer para contar o processo de que foi alvo e a sua defesa em tribunal (Apologia), quer a sua permanência na prisão (Críton), quer os últimos momentos antes de beber a cicuta (Fédon).

A colecção das obras de Platão compreende trinta e cinco diálogos e um conjunto de treze cartas. Os seus diálogos podem ser considerados dentro de quatro períodos distintos:


· Diálogos considerados de juventude ou socráticos, até cerca de 390 a.C. (antes da morte de Sócrates).

Apologia de Sócrates
Críton ou Do Dever
Íon ou Da Ilíada
Laqués ou Da coragem
Lísis ou Da Amizade
Cármides ou Da Sabedoria
Eutífron ou Da Santidade

· Diálogos ditos de transição:

Eutidemo ou Da Erística
Hípias menos ou Da Mentira
Crátilo ou Da Etimologia
Hípias Maior ou Do Belo
Menexeno ou Do Epitáfio
Górgias ou Da Rétorica
República - livro I
Protágoras ou Dos sofistas
Ménon ou Da Virtude


· Diálogos de maturidade (escritos provavelmente entre 387 a.C. e 368 a.C.):

Fédon ou Da Alma
Banquete ou Do Bem
República - livros II a X
Fedro ou Da Beleza


· Diálogos considerados de velhice:

Parménides ou Das Formas
Teeteto ou da Ciência
Sofista ou Do Ser
Político ou Da Realeza
Filebo ou Do Prazer
Timeu ou Da Natureza
Crítias ou Da Atlântida
Leis (inacabado)


Há ainda outras obras cuja autoria é contestada: Alcibíades I e II, Epinómide ou Do Filósofo, Hiparco, Minos, Os Rivais, Téages e Clítofon.
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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Livro

Políticas do ensino de filosofia

Walter O. Kohan (comp.)
Antonia Birnbaum, Hilan Bensusan, Lílian do Valle, Maurício Rocha, Nicolas Go, Ricardo Sassone, Rodrigo Dantas, Rosi Giordano, Rui C. Mayer, Sílvio Gallo, Vera Waksman


Apresentação

A presença obrigatória da filosofia no ensino médio é uma reivindicação muito recorrente entre os professores de filosofia. Entre eles, há um pressuposto poucas vezes problematizado: pressupõe-se, habitualmente, que a filosofia fará uma diferença significativa, para melhor, na qualidade do processo educativo; na maioria dos casos, associa-se essa presença a uma “formação democrática, crítica ou cidadã”. A filosofia é vista como redentora, fonte fundamental de transformações para a educação. Essa presunção deve ser levada a sério e pensada cuidadosamente. Só a partir de uma percepção de si própria que deixe de lado os auto-elogios e os pré-conceitos, a filosofia pode pensar de forma mais interessante sua projeção e relação com outros saberes e instituições, como a escola e a universidade. Pensar as relações entre filosofia e educação requer um questionamento sobre a própria filosofia, seus “quê?”, “como?”, “por quê?”, “para quê?”. Esta coleção pretende contribuir para essa tarefa. Um elemento comum aos livros que a compõem é o interesse pela problematização filosófica da filosofia, da educação e das relações entre uma e outra. Mas os acordos param aí. As temáticas, os estilos e as referências são diversos. Além dos antigos, o leitor encontra menções a filósofos modernos como Descartes, Hegel, Hume, Kant, Locke, Montaigne, Rousseau, Schiller e Spinoza, e contemporâneos tão diversos como Adorno, Agamben, Althusser, Arendt, Badiou, Benjamin, Bergson, Castoriadis, Conche, Deleuze, Derrida, Desanti, Dewey, Foucault, Gadamer, Gramsci, Guattari, Heidegger, Horkheimer, Lipman, Lévinas, Lyotard, Marx, Merleau-Ponty, Morin, Negri, Nietzsche, Nussbaum, Rancière, Schopenhauer, Taylor, Virilio, Wittgenstein. Também há referências literárias: Barros, Borges, Cervantes, Conan Doyle, Kafka, Poe, Orwell, Ramos, Sábato... Isso para não falar das interfaces com antropólogos, arquitetos, artistas, educadores, historiadores, psicanalistas, psicólogos, sociólogos que compõem a coleção. E ainda há os autóctones e os próprios autores. É uma reunião de muitos especialistas para pensar a relação entre filosofia e educação – quase um banquete.

Políticas do ensino de filosofia elabora as categorias de ensinar e aprender filosofia; pedagogia da opressão; as relações público-privado, homem-cidadão, liberdade-responsabilidade; trabalho imaterial; estética aplicada; emancipação; paixão pelo conhecer; filosofia popular.

Conteúdo

1. Políticas da educação

Antonia Birnbaum
As aflições do aluno Rancière

Hilan Bensusan
Notas por uma pedagogia da opressão

Rui Mayer
Uma (Maldosa) Crítica às Escolas ‘do Bem’

Vera Waksman
O mal estar na educação: variações sobre o mestre e o discípulo

2. Filosofia, cultura e sociedade

Maurício Rocha
Inteligência, trabalho imaterial e ensino de filosofia

Ricardo Sassone
A intervenção “estético-pedagógica” e sua fundamentação no marco de uma “estética aplicada” num contexto institucional-curricular

Rodrigo Dantas
Da Colonização e da Emancipação do Pensamento

Rosi Giordano
A Filosofia nos (con)fins dos espaços

3. Entre filosofia e educação

Lílian do Valle
O eros de uma educação filosófica

Nicolas Go
Filosofia: uma educação

Sílvio Gallo
O macaco de Kafka e os sentidos de uma educação filosófica

Organizador

Walter Omar Kohan nació el 25 de noviembre de 1961 en Buenos Aires, Argentina. Estudió filosofía en la Universidad de Buenos Aires y se doctoró también en Filosofía en la Universidad Iberoamericana de México, DF. Tiene como áreas principales de interés la enseñanza de la filosofía, las relaciones entre filosofía e infancia, la filosofía antigua, y la filosofía de la educación.
Es profesor titular de filosofía de la educación, investigador del Consejo Nacional de Investigaciones y coordinador del Núcleo de Estudios Filosóficos de la Infancia en la Universidad del Estado de Río de Janeiro, Brasil. Es investigador del programa Pro-Ciencia de la Fundación de Apoyo a la investigación de Río de Janeiro, Brasil.
Ha publicado más de 40 trabajos en revistas académicas y actas de eventos en Argentina, Brasil, Uruguay, Colombia, Venezuela, México, Estados Unidos, España, Francia, Italia, Hungría e Inglaterra. Es autor o co-autor de 15 libros y 17 capítulos de libros. Como conferencista o presentador de trabajos intervino en más de 100 eventos en casi 20 países

Introdução

Jorge Luis Borges sabia muito bem que, apesar de nosso orgulho e petulâncias folclóricas, todas as línguas são igualmente inexpressivas. Talvez por isso encarava com simpatia e, mesmo com interesse carinhoso, algumas tentativas – frustradas, é claro – de criar um idioma perfeito, universal. Borges identificou o que considerava a razão principal e definitiva desse fracasso: «não sabemos o que é o universo» . Não o sabemos, e nunca saberemos, seja porque o universo não tem, de fato, um propósito orgânico e unificador, ou porque, ainda que o tivesse, estaríamos de todo modo impossibilitados de conhecê-lo, de penetrar no «dicionário secreto» de Deus. Não obstante, esta impossibilidade não deve – destacava Borges, «dissuadir-nos de planejar esquemas humanos» .
A impossibilidade de uma língua perfeita e universal é também a impossibilidade de um pensamento perfeito e universal. Por isso, talvez não seja injusto perceber a filosofia como as sucessivas tentativas de encontrar esquemas humanos que nos permitam decifrar o enigma do universo, munidos da percepção de que tal discernimento é impossível.
De alguma forma, o universo está composto de outros infinitos universos «menores», igualmente indecifráveis (o leitor me perdoará os conceitos paradoxais de «infinito menor» e «universo menor», mas para certos esquemas humanos eles são incontornáveis). E dentro de cada universo, a mesma coisa: outros infinitos universos infinitos, também indecifráveis. A educação é um dos universos indecifráveis do indecifrável universo. Este livro é um esforço para pensar alguns esquemas que nos permitam elucidar alguns dos indecifráveis universos que compõem esse não menos indecifrável universo a que chamamos educação. Ele é um conjunto de esquemas menores, para pensar problemas infinitos.
O livro reúne trabalhos apresentados no II Encontro Internacional de Filosofia e Educação / Fórum Sudeste de Ensino de Filosofia que teve lugar na UERJ, no Rio de Janeiro, entre os dias 9 e 11 de setembro de 2004. Na verdade, o volume que o leitor tem nas mãos é um de três. Não há aqui reminiscências pitagóricas de número perfeito. Poderíamos tê-los organizado diferentemente, por exemplo, em apenas um alentado volume, ou em dois medianamente volumosos. Em certo sentido – por exemplo, em relação à infinitude dos problemas tratados, a diferença é irrelevante. Mas preferimos volumes menores, porque assim são mais compactos, coesos, conectados, muito embora não estejamos perante um livro feito de acordos, ou de consensos. Ao contrário, o leitor perceberá divergências não apenas no que diz respeito às posturas e aos referenciais teóricos dos textos aqui apresentados, mas em relação às próprias problematizações consideradas filosoficamente relevantes. Mais uma vez, não poderia ser de outro modo, se o universo, os problemas e os modos de enfrentá-los são infinitos. Diria que o único elemento que perpassa todos estes trabalhos seria, talvez, o pressuposto do interesse pelo enfrentamento filosófico do infinito universo educacional.
A divisão dos trabalhos nos três volumes – como todo esquema humano – é arbitrária e responde a uma combinação de critérios tais como temática, estilo, perspectiva, ênfase. A trilogia foi composta mais diretamente em torno de três temáticas: Políticas do Ensino de Filosofia; Lugares de infância: letras, escola, filosofia; e Filosofia: caminhos para seu ensino. No primeiro volume, os textos versam sobre questões mais amplas, sobre as relações entre educação, cultura e filosofia. No segundo, reúnem-se escritos que, de alguma forma, têm uma forte referência à infância. Por fim, o terceiro compõe-se de trabalhos que, em certa medida, versam sobre a circulação do discurso filosófico, suas condições de «ensinabilidade».

O volume Políticas do Ensino de Filosofia está dividido em três partes. Na primeira, Políticas da educação, estão trabalhos que elaboram, desde diversas perspectivas teóricas, as categorias do ensinar e do aprender e, em particular, do ensinar e do aprender filosofia – o que Antonia Birnbaum, na palestra de abertura do evento, realiza de maneira particularmente elegante, inspirada na trajetória de Jacques Rancière: em que medida o percurso filosófico que é o seu dá pistas para se pensar um caminho de aprendizado em filosofia? Já em «Notas por uma pedagogia da opressão», Hilan Bensusan trata de um tema que, embora à primeira vista possa parecer gasto, é surpreendentemente inexplorado: depois de explicitar as marcas que constituem uma pedagogia da opressão, pergunta-se o que os educadores profissionais poderiam perguntar-se com certa freqüência: como aprendem a permanecer indiferentes à opressão aqueles que oprimem? A interrogação basta. Em «Uma (Maldosa) Crítica às Escolas ‘do Bem’», Rui Mayer provoca, sem condescendências, os professores que confiam e apostam na escola e na crítica: a partir da leitura de Althusser e Foucault, busca sacudir as consciências tranqüilas e a auto-justificação. Finalmente, Vera Waksman, em «O mal estar na educação: variações sobre o mestre e o discípulo», retrata, com Rousseau e Nietzsche, dois modelos de mestre, «um que conduz para onde se deve ser; outro que deixa ser, que está aberto à sorte do encontro». O desafio a que nos convoca é o de pensar, entre esses dois modelos, algumas tensões que se enraízam em solo educacional: público-privado, homem-cidadão, liberdade-responsabilidade.
A segunda parte desse primeiro volume, intitulada Filosofia, cultura e sociedade», está composta de outros quatro trabalhos. Maurício Rocha, em «Inteligência, trabalho imaterial e ensino de filosofia», expõe desde o título sua principais referências: Negri e Deleuze, ainda que não se esquive do espinhoso tema de uma filosofia nacional e das ressonâncias de tal discussão no ensino de filosofia e, mais amplamente, na sociedade e na cultura brasileiras. O texto de Ricardo Sassone, «A intervenção ‘estético-pedagógica’ e sua fundamentação no marco de uma ‘estética aplicada’ num contexto institucional-curricular» apóia-se num referencial teórico próximo ao do Maurício, porém interessado na dimensão estética da intervenção pedagógica: em que medida essa intervenção afirma uma estética aplicada? Nesta mesma seção, em «Da colonização e da emancipação do pensamento», Rodrigo Dantas enfrenta frontalmente o que, a meu ver, é uma das questões filosóficas centrais do pensamento marxista de nosso tempo: que sentido têm hoje conceitos como crítica e emancipação? Que significa politizar?, Qual o estatuto das verdades ensinadas? Por último, Rosi Giordano pensa o lugar do ensino de filosofia na cultura, desde uma perspectiva geral e específica para a Amazônia, onde vive e trabalha: «A Filosofia nos (con)fins dos espaços» é um convite para pensar, desde o local e também o global, a contribuição que a filosofia e seu ensino poderiam oferecer para aplacar as formas com que Auschwitz se presentifica entre nós, aqui e em toda parte.
Integram a terceira e última parte, Entre Filosofia e Educação, três trabalhos. Em «O Eros de uma educação filosófica”», Lílian do Valle trata das relações entre paixão pelo conhecer e sentido de educar: o que pode ainda mover o professor, num contexto cada vez mais desprovido de sentido e em condições crescentemente adversas? Em que medida é possível fazer da paixão pelo conhecer uma força para a prática da educação? Em seguida, “Filosofia: uma educação”, de Nicolas Go, examina, com o auxílio de Gramsci e Althusser, as condições de possibilidade do que se poderia chamar de filosofia popular. Coloca em questão os pressupostos da divisão entre senso comum e conhecimento filosófico, em busca de um terreno a partir do qual pensar uma educação filosófica para todos. Finalmente, Sílvio Gallo faz um vivo exercício de filosofia em «O macaco de Kafka e os sentidos de uma educação filosófica», onde cabe ao macaco a interrogação, dirigida aos «doutores de nossa educação», sobre o sentido de colocar a filosofia a serviço da educação da cidadania: não seria essa uma espécie de deformação?

Também o tomo Lugares da infância: letras, escola, filosofia está organizado em três seções. A primeira, A infância, entre a literatura e a filosofia acolhe três trabalhos interessados em pensar o conceito de infância que, coincidentemente, dialogam com o poeta mato-grossense Manoel de Barros. Bernardina Leal, em «Leituras da infância na poesia de Manoel de Barros» examina algumas de suas figuras da infância e as possíveis repercussões educacionais dessas figuras. Num exercício de ser criança, propõe pensar a infância como uma metáfora do novo e a gênese de um outro pensar na educação. Pedro Pagni nos apresenta «As memórias da infância e as vicissitudes do desejo de sabedoria na experiência educativa: retratos literários e questões filosóficas para educadores». Ele coloca em paralelo a categoria de infância segundo Graciliano Ramos e Manoel de Barrros: se as Memórias inventadas de Manoel de Barros procuram «restaurar o riso e tornar mais leve a experiência com o passado», a obra de Ramos permite discutir o papel político da experiência educativa perante os impasses da educação atual. Finalmente, em «A infância da educação: o conceito devir-criança», procurei jogar com as Memórias inventadas a partir da invenção conceitual de Deleuze. Busquei pensar a infância para além da cronologia, re-situar seu lugar na educação: a infância como o que educa, e não apenas como o que precisa ser educado; uma infância da educação e não só uma educação da infância.
A segunda parte desse volume, Literatura e ensino de filosofia contém três reflexões que destacam a questão literária. Na primeira, «Literatura e educação filosófica», Diego Pineda mostra como a relação entre conteúdo filosófico e forma literária adquiriu, ao longo da tradição, formas diversas que, por sua vez, supõem concepções distintas do que seja o trabalho filosófico; e examina o uso de textos literários no exame de problemas filosóficos através dos exemplos de Cervantes, Conan Doyle e George Orwell. As duas últimas são de autores de histórias para filosofar com crianças recentemente publicados. Paula Ramos reflete sobre sua própria experiência de escritora de histórias para pensar, interrogando-se sobre os conceitos de história e pensar que atravessam essa tentativa para pensar o sentido da filosofia e da literatura infantil hoje. Em «Do texto à gênese do filosofar», Sérgio Sardi apresenta suas histórias de Ula, buscando pensar as condições originárias do gesto filosófico e justificar a recriação de Ula.
A terceira e última parte do volume, Filosofia para crianças, traz contribuições de professores longamente engajados com essa proposta. Ann Sharp escreve «A Outra Dimensão do Pensamento que Cuida», que apresenta o cuidado como um valor fundamental no interior do que denomina uma comunidade de investigação filosófica – espaço democrático e estético, em que um grupo de crianças investiga cooperativamente problemas comuns e onde o cuidar, como forma de pensar e de agir no mundo, tem o papel fundamental. Em «A Escola do Terceiro Reino Alegre», David Kennedy engaja-se na fenomenal tarefa de re-pensar a escola, buscando explicitar as condições, diretrizes, estrutura e forma que assumiria a instituição, ao fazer-se um novo espaço e um novo tempo para que as relações entre crianças e adultos estejam marcadas pelo diálogo. Em seu texto, Marcos Lorieri analisa os vinte anos de prática filosófica com crianças e jovens no Brasil, descrevendo a inserção do programa de Lipman, oferecendo fontes para estudar essa tentativa e outras propostas de trabalho e pesquisas relativas à filosofia no ensino fundamental. Encerrando a seção, Olga Grau, analisa, em «De tabulas rasas a sujeitos encarnados», algumas das metáforas surgidas na modernidade para representar a infância, contrapondo-as ao conceito de infância pressuposto no Programa de Filosofia para Crianças e na comunidade de investigação.

O terceiro volume, Filosofia: caminhos para seu ensino também está dividido em três partes. Na primeira, Das condições do ensino de filosofia, Alejandro Cerletti reflete sobre as condições filosóficas para um ensino filosófico (de filosofia). Trata, em «Ensinar filosofia: da pergunta filosófica à proposta metodológica», de pensar o filosófico não apenas como exigência de uma metodologia que não se submeta à técnica, mas também como forma de relação do professor com os textos, a instituição e, sobre tudo, com seus alunos. O texto de Celso Favaretto, «Uma perspectiva para o ensino de filosofia», tem duas partes claramente definidas: a primeira analisa as relações entre filosofia, ensino e cultura, situando a filosofia, interrogando-se sobre a contribuição específica da disciplina escolar para a vida, pessoal e social; a segunda discute, mais especificamente, as condições mínimas do trabalho filosófico no ensino médio: como favorecer a elaboração teórica e a criticidade. Por sua vez, em «É possível ensinar a filosofia? E, se possível, como?», Danilo Marcondes examina duas concepções não excludentes de filosofia, a histórica e a analítica, que podem estar na base do ensino de filosofia, discutindo a possibilidade, as condições e os objetivos desse ensino. Finalmente, Ricardo Navia, em «Ensino Médio de Filosofia nas Presentes Condições Culturais e Sociais de Nossos Países», propõe pensar a especificidade de América Latina nesta problemática. Depois de descrever e analisar o que considera o neo-conservadorismo pedagógico dominante na região, sugere «contra-condições» que uma educação progressista e o ensino de filosofia em particular poderiam explorar para uma «reviravolta dialética».
Na segunda parte, Do ensino médio ao ensino superior, são apresentados outros quatro textos. Em «O Ensino da Filosofia como uma Estratégia contra a Tarefa da Interdisciplinaridade», Charles Feitosadiscute o sucesso atual da noção de interdisciplinaridade, ligado às Diretrizes Curriculares dos Cursos de graduação em filosofia, como sintoma de uma crise muito mais profunda e radical na própria filosofia, que esconde um injustificado desejo de totalidade. Em «Licenciatura ou bacharelado e outras bifurcações no ensino de filosofia», Elena Teresa José aborda criticamente os atuais planos de curso de filosofia universitário e, particularmente, a dicotomia licenciatura x bacharelado, analisando aí as relações entre ensino e investigação, as metodologias em uso e a clássica dicotomia entre ensinar filosofia ou ensinar a filosofar. Em «A filosofia no vestibular: expansão do ensino e impasses metodológicos», Humberto Guido apresenta e reflete sobre a experiência da Universidade Federal de Uberlândia de introdução da filosofia no vestibular, criticando o elitismo da proposta e a imposição precoce de uma especialização impossível aos jovens. Fecha essa segunda parte «Filosofia em tempos de adrenalina», de Ingrid Müller Xavier, que apresenta dois aspectos da atual crise de paradigmas: a crise da cultura letrada frente à cultura imagética e a crise da interioridade frente à exterioridade e a conseqüente «corpolatria», buscando analisar como o ensino de filosofia pode responder a eles.
A última parte do livro é denominada Outros nomes e lugares para a filosofia? Nela está o texto de Filipe Ceppas, «Sobre as práticas filosóficas extra-acadêmicas», que reflete sobre o atual boom de lugares não tradicionais para a filosofia: cafés, romances, terapias, teatro, crianças etc., analisando a moda a partir de categorias como esclarecimento e emancipação. Em «A fundamentação filosófica da Olimpíada Argentina de Filosofia», Marcelo Lobosco discute a experiência, que tem como lema o famoso sapere aude kantiano, explicitando seus objetivos pedagógicos, eixos temáticos, métodos de trabalho e bibliografia. Encerrando o volume e também a trilogia, o texto «O Olimpismo e a filosofia» é uma tele-conferência de Stéphane Douailler para as Olimpíadas Internacionais de Filosofia que tiveram lugar em Buenos Aires, em maio de 2003. Trata-se do único texto não apresentado em nosso Encontro, no qual Douailler busca as razões do olimpismo atual e suas relações mais ou menos estreitas com a filosofia.
Eis uma apertada apresentação do que o leitor poderá encontrar nesses três primeiros volumes da coleção «Sócrates». Esquemas humanos, menores, filosóficos, para decifrar o indecifrável. Esperamos continuar com esquemas igualmente menores e filosóficos. E que eles sirvam de estímulo para que você, leitor, continue a pensar os seus.
Finalmente, alguns agradecimentos. A tarefa de organizar este livro não foi fácil, assim como a de traduzir e editar em muito pouco tempo os trabalhos que o compõem. Agradeço especialmente aos colaboradores que enviaram seus trabalhos com presteza; aos tradutores que, desta vez, não traíram apenas os autores, mas também o seu próprio tempo de elaboração. E finalmente a Antônio De Paulo que deu uma acolhida simpática e enérgica ao projeto. É pelo esforço e o trabalho conjunto de muita gente que conseguimos lançar os volumes durante o próprio evento e entregá-los com satisfação e alegria aos seus participantes.


Walter Omar Kohan
Profesor titular de Filosofía de la Educación,
Universidad del Estado de Río de Janeiro, Brasil. 2004

Site: http://www.noveduc.com/index.php
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Uma pergunta de Hilan Bensusan

Como encontrar
a agulha de um fato
em um palheiro de metáforas?
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Citação

Max Scheler. Visão filosófica do mundo

""As massas nunca serão filósofas." Esta frase de Platão é válida também hoje. A maioria dos homens retira a sua visão do mundo de uma tradição religiosa ou de qualquer outra tradição que suga com o leite materno. Mas quem aspira a uma visão do mundo fundada filosoficamente tem que ter a coragem de se apoiar na sua própria razão. Deve duvidar tentativamente de todas as opiniões herdadas e não deve reconhecer nada que não lhe seja pessoalmente inteligível e fundamentável. Apesar de que a filosofia pertence e sempre pertenceu a uma elite que se reúne em torno da personalidade extraordinária de um pensador, a visão do mundo fundada em filosofia não deixa, de forma alguma, de ter uma influência sobre a marcha da história. Pois toda história é essencialmente uma obra das elites e dos seus imitadores. É preciso somente pensar na ação exercida por Platão e Aristóteles sobre as doutrinas da Igreja ou na ação poderosa, abaladora e renovadora da mente que I. Kant, J. G. Fichte, Scheling e Hegel exerceram sobre a Alemanha das guerras de libertação e sobre seus líderes políticos e militares, seus poetas e educadores, a fim de ter diante dos olhos um exemplo desta ibfluência de uma elite filosófica"
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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Immanuel Kant

Por Samir Gorsky


Introdução

Vida e obra

Kant nasceu em Königsberg no dia 22 de abril de 1724 e viveu em tempos de profundas mudanças, principalmente as do pensamento, mesmo sem nunca ter saído desta cidade ele ensinou geografia, matéria que o influenciou bastante no seu método relacionado a análise do conhecimento, pois da mesma forma, tanto na sua teoria do conhecimento quanto na geografia são utilizados mapas, no caso da teoria do conhecimento o mapeamento se refere a mente, assim fazendo um pequeno trocadilho pode-se usar-se do neologismo para se referir a isto como sendo um mapeamente. Foi uma pessoa contida e se diz que era tão pontual que os cidadãos de Königsberg acertavam os seus relógios pelo hábito que este filósofo possuía de caminhar sempre no mesmo horário. Kant ainda lecionou matemática e seu conhecimento no que se refere a essa matéria é refletido em algumas passagens que estão no início de uma pequena obra sua (Da utilidades de uma nova metafísica). Ensinou inicialmente como livre docente e em sua tese para conseguir uma cadeira na Universidade de Königsberg já haviam várias direções em relação ao seu pensamento filosófico que mais tarde traria a tona uma nova perspectiva ao pensamento ocidental. Suas referências principais foram Rousseau e Hume, segundo ele mesmo deixou transparecer. Hume o “ajudou” a acordar do “sono” dogmático, e Rousseau principalmente na sua política e nas reflexões sobre a liberdade e a moral. Kant foi responsável por “um cérebro que passou a vida investigando o universo espiritual do homem, à procura de seus fundamentos últimos, necessários e universais.”(Marilena Chauí).

A obra central do pensamento kantiano é a crítica, que aparece em três momentos diferentes, ou seja, esta analisa três assuntos em três obras (segundo Kant, os assuntos são fundados nos conceitos a priori) que dizem respeito às questões que tem como palco a alma Humana.

A primeira dessas questões é sobre o conhecimento e a crítica é a forma de “julgamento” deste, pois não poderíamos fugir de certas questões que a própria razão não da conta das respostas. Assim a primeira questão é também sobre uma certa limitação das pretensões especulativas pela metafísica. Este será o assunto deste trabalho que terá como objetivo demonstrar os fundamentos do qual se pode conceber, em Kant, uma crítica da razão pura. A segunda crítica tem como tema central, a moral e a liberdade (e como já tinha sido dado pela primeira crítica, quando Kant coloca a seguinte orientação ou processo pelo qual pretendeu situar as suas críticas: “portanto tive que afastar (aufheben) o saber para obter lugar para crença, e o dogmatismo da metafísica, isto é, o preconceito de progredir nela sem crítica da razão pura, é a verdadeira fonte de toda a sempre muito dogmática incredulidade antagonizando a moralidade” (Crítica da razão pura, prefácio). A crítica da razão prática tem por objeto a conduta humana, então, Kant se utiliza de um “imperativo categórico” que é uma espécie conceito sintético a priori, é o imperativo categórico que nos fornece o sentimento de dever e é somente em obediência a ele que poderemos chegar à liberdade, ele também pode nos remeter à idéia de Deus, porém não na forma de um conhecimento especulativo mas apenas como originador desta espécie de “ordem”. A terceira crítica, por fim tratará de um juízo a priori que para Kant não está dentro da questão nem do conhecimento especulativo, nem da moral, trata-se portanto do prazer e do desprazer.

Em resumo as obras de Immanuel Kant publicadas desde 1746 até 1798 e que possuem um relativo destaque podem ser listadas da seguinte maneira: História geral da natureza e teoria do céu (1755), O único argumento possível para uma demonstração da existência de Deus (1763), Sonhos de um visionário, interpretado mediante os sonhos da metafísica (1766), Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e do mundo inteligível (1770), Prlegômenos a qualquer metafísica futura que possa ser considerada como ciência (1783), Fundamentação da metafísica dos costumes (1785). Porém suas três obras que mais chamam atenção são: Crítica da razão pura (1781), Crítica da razão prática (1788), Crítica da faculdade de julgar (1790).

O ambiente filosófico e Kantiano.

Na época de Kant havia uma disputa filosófica que encerravam basicamente duas vertentes do pensamento moderno, os empiristas e os racionalistas, o empirismo ocorreu predominantemente na Inglaterra e teve Bacon como fundador, enquanto que o racionalismo tinha como lugar comum a França, e Descartes como pioneiro (todavia, tanto um como outro se espalhara por toda a Europa). Os expoentes mais contemporâneos à Kant e que mais o influenciou foram Lokce e Hume por parte dos empiristas, Leibiniz e Wolff, estes racionalistas, os primeiros tinham como fundamento de sua filosofia a experiência e as sensações enquanto os últimos se ocupavam mais das idéias que poderiam ser claras e distintas.

A crítica da razão pura

O projeto principal desta obra é a fazer da metafísica uma ciência, colocando-a diante de um tribunal que é a crítica e de um juiz, que é a razão. A abordagem kantiana, tida como uma novidade (no sentido metodológico) será uma das pilastras a serem validadas em sua “filosofia transcendental”, e a pretensão é causar uma revolução análoga à que Copérnico engendrou na astronomia.

O projeto kantiano em si fracassou, porém ele conseguiu causar a revolução análoga a de Copérnico, Kant então se tornou um marco na história da filosofia, e sua importância não remete apenas a sua teoria do conhecimento mas também a “filosofia prática” (moral) e política.

A pergunta que guia esta obra esta relacionada intimamente com os processos cogniscitivos do conhecimento. Ela está formulada da seguinte maneira: “O que posso conhecer?”. Talvez também seja lícito formular uma outra: “Como posso conhecer?”. Portanto, tanto o objeto a se conhecer, quanto a maneira de se conhecer será questionado, ou melhor, “julgado” no tribunal da crítica. O sentido da palavra pura reflete a ausência dos pressupostos a posteriores, pois a metafísica atua como limitadora do conhecimento e a preocupação primeira, como podemos ver na questão acima não é o conhecimento em si e sim as possibilidades deste. Percebe-se então que Kant está pensando o transcendental e busca para isso o conjunto das categorias e estruturas a priores que ele acredita ser o caminho para se chegar às respostas das perguntas anteriores.

Mas porque não os dados empíricos?
Primeiramente é cabal que a necessidade e a universalidade sejam suficientemente quitadas para que o conhecimento tenha algum valor ontológico, por outro lado há uma negação de que o dogmatismo deva prosseguir e também porque “na medida em que deve haver razão nas ciências, algo tem de ser conhecido nelas a priori, e o conhecimento da razão pode ser referido de dois modos a seu objeto: ou meramente para determinar este e seu conceito (que precisa ser dado alhures) ou também para torna-lo real . O primeiro é o conhecimento teórico, o outro o conhecimento prático da razão. Não importa quão grande ou pequeno seja o seu conteúdo, a parte pura de ambos, ou seja, aquelas em que a razão determina o seu objeto de modo completamente a priori, tem de ser exposta antes sozinha, e aquela que provém de outras fontes não tem que ser mesclada com ela...” (Crítica da razão pura, prefácio).

Na introdução, logo na primeira frase está claro que o conhecimento começa com a experiência e nenhum conhecimento a precede, a faculdade do conhecimento, então, é despertada pelas impressões dos objetos, a dúvida que aqui fica latente é: se a primeira impressão nos dá a representação do objeto em si. A resposta é negativa pois logo em seguida vem a explicação, que diz ser o conhecimento não totalmente originado da experiência, ou seja, ele (o conhecimento) começa a partir, e não da, experiência. Dessa afirmação consta que há uma estrutura a priori que será descrita em grande parte nesta crítica.

Após dividir os juízos em a priori e a posteriori, Kant se ocupará de descreve-los como, ou sintéticos, ou analíticos. Sendo que sintéticos serão aqueles no qual o predicado não se originará da definição do sujeito, já nos juízos analíticos o predicado já estará na definição do sujeito, no primeiro há uma necessidade de conexão entre o predicado e o sujeito pois de outro modo não se poderia liga-los conceitualmente. “ Com efeito, por meio do predicado aqueles (analíticos) nada acrescentam ao conceito do sujeito, mas somente o dividem por desmembramento em seus conceitos parciais que já eram (embora confusamente) pensados nele, enquanto os últimos (os sintéticos) ao contrário acrescentam ao conceito do sujeito um predicado que de modo algum era pensado nele nem poderia ter sido extraído dele por desmembramento algum”. (Crítica da razão pura, introdução)

É essa a divisão que fundamentará, não só a primeira crítica mas toda a metafísica kantiana, nela os juízos não serão apenas tratados como ou analíticos, ou sintéticos porém a priori e a posteriori juntamente com eles, ou seja, juízos analíticos a priori etc. Os juízos de experiência são todos considerados sintéticos ao passo que nos (juízos) a prioris podem ser tanto sintéticos quanto analíticos. A partir dessa nomenclatura dos juízos Kant irá pensar a sua estética transcendental na primeira parte da crítica.

A primeira parte da obra em questão chama-se “doutrina transcedental dos elementos” (estética transcendental). O transcendental para Kant é “o conhecimento que se ocupa não tanto de objetos , quanto dos nossos conceitos a priori de objetos” ( idem, p.10, segundo Will Durant em “A história da filosofia” p.257), assim o que é chamado de transcendental são os “nossos modos de correlacionar nossa experiência com o conhecimento (Will Durant, idem)”. Primeiramente aplicamos as formas de percepção (tempo e espaço) às sensações, organizando-as a partir daquelas; depois ocorre a coordenação, através das categorias (formas de concepção), das percepções. A capacidade de receber representações graças à maneira pela qual somo afetados é sensibilidade, a representação que depende de maneira imediata da presença do objeto chama-se intuição (talvez aqui o que está como “intuição” era o que, tendo Will Durant como referência, eu tinha colocado anteriormente como “percepção”) e “o efeito de um objeto sobre a capacidade de representação, na medida em que somos afetados pelo mesmo, é sensação”(Crítica da razão pura, primeira parte). A pergunta aqui então, seria: Como podemos, pelas sensações, construir (obter) intuições? A resposta que é: pela possibilidade dos juízos sintéticos a priori nos remete inevitavelmente a uma outra pergunta, que é a questão chave da filosofia kantiana: Como são possíveis os conceitos sintéticos a priori? -“a saber, intuições puras a priori, espaço e tempo, nos quais, se no juízo a priori quisermos sair do conceito dado, encontramos aquilo que pode ser descoberto a priori não no conceito, mas na intuição que lhe corresponde, a ser ligado sinteticamente àquele. Por esta razão, esses juízos jamais alcançam além de objetos de uma experiência possível.” (Crítica da razão pura, Conclusão da estética transcendental).

Dai surge também uma dúvida: de onde vem a certeza kantiana de que os juízos sintéticos a priori nas matemáticas (e outras afins) são realmente a priori? Essa pergunta pode se esclarecer se observarmos que há uma possibilidade especial de abstração desses conceitos ou seja, quando se pensa um triângulo, pensamos consequentemente suas relações, porém como percebemos sinteticamente? Talvez a questão fique resolvida se tivermos em mente que; sendo o espaço uma forma da sensação que há subjetivamente, e a geometria uma parte da matemática que se utiliza de conceitos prioritariamente espaciais (e as vezes unicamente) haverá uma enorme gama de possibilidades nesse sentido. Todavia Kant sofreu diversos ataques referentes a essa questão e um deles veio de um de seus contestadores cujo o nome é Eberhardt. Kant então tentou responder à “Revista filosófica” de Eberhardt com uma pequena obra chamada “Da utilidade de uma nova crítica da razão pura”. Aquele defende a possibilidade do conhecimento especulativo no sentido metafísico a que Kant não aceita de nenhuma maneira, o que pode ser reconhecido na passagem:

“O senhor Eberhardt queria demonstrar que se pode perfeitamente ampliar o conhecimento e enriquece-lo com novas verdades sem inquirir que se estamos lidando eventualmente com conceitos vazios, aos quais não haja objetos correspondentes (Afirmativa repugnante ao entendimento humano em estado de sanidade).” (Da utilidade de uma nova crítica da razão pura, Primeira parte).

Voltemos então à questão anterior para aborda-la de uma maneira mais completa aos olhos da crítica.

Segundo Kant, Hume não admitiria a possibilidade desses juízos sintéticos a priori, porém (para Kant) eles seriam pensados na matemática pura. Daí as perguntas: “Como é possível a matemática pura? Como é possível a ciência pura da natureza?”

A possibilidade delas não seria problema pois são realmente “dadas”, mas Kant ainda pensa na objeção a esta ultima e por isso, na nota de roda pé coloca: “Alguns ainda poderiam duvidar desta ultima (da realidade dessas ciências puras) coisa relativa à ciência pura da natureza. Todavia, basta ver as diversas proposições que ocorrem no começo da física propriamente dita (empírica) – como a da permanência da mesma quantidade de matéria, a da inércia, a da igualdade de ação reação etc. – para logo se convencer de que perfazem uma physicam puram (ou racional) que, como ciência especial, bem merece ser erigida separadamente em toda a sua extensão, seja esta restrita ou vasta.” (Crítica da razão pura, introdução) ao passo que a metafísica não poderia ser vista até aqui (até esta crítica) da mesma forma, entretanto, o homem evolui até perguntas que são impostas à razão, e esta não obstante não pode responde-las, a pergunta então que se colocaria neste caso é: “Como é possível a metafísica natural? ou seja, como surgem da natureza da razão humana universal as perguntas que a razão pura levanta para si mesma e que é impelida a responder, tão bem quanto pode, por sua própria necessidade?”(idem)

São essas as perguntas que juntamente com Hume levaram Kant a escrever esta obra pois ela (a crítica) seria o fundamento de uma ciência que às responderiam.

Conclusão

O trabalho não pretendia ser um documento suficiente e nem mesmo introdutório mas sim, apenas uma pequena citação sobre Immanuel Kant. Visto que o objetivo proposto na introdução era o de localizar os fundamentos da Crítica da razão pura, não poderia assim estar completo neste sentido, entretanto foi possível analisar esses fundamentos no sentido mais geral e citar as perguntas que perfizeram essa obra como um monumento filosófico capaz de delinear todo um século de pensamento. Kant talvez não tenha fracassado então, sua expectativa de revolucionar a metafísica assim como aconteceu na física após Copernico foi concluída, as saídas porém com vista já na modernidade não foram tocadas e o modelo sujeito/objeto permaneceu, Kant não percebeu porém que sua obra era mais desconstrutora (dava mais alternativas à descontruir a tradição) do que positiva (no sentido de dar origem a uma ciência metafísica) por isso sua obra continuou como símbolo da modernidade e do iluminismo de sua época, o que pode ser retratado nesta passagem de Humberto Eco: “Naturalmente, condição indispensável para uma ética intelectual iluminista é de estarmos dispostos a nos submetermos à crítica, não somente a cada crença, mas, inclusive ao que as ciências nos oferecem como verdades absolutas.”

Bibliografia

Châtelet, F.: A História da Filosofia (volume 5), Paris, 1973.

Durant, Will: A história da filosofia, Trad.: Luiz Carlos do Nascimento Silva; Coleção: Os Pensadores, São Paulo, Nova Cultural, 2000.

Pe. Edmundo H. Dreher, S. J.: A impossibilidade da metafísica na crítica da razão pura, Coritiba, 1959.

Kant, I.: Crítica da Razão Pura, Königsberg, 1787. Tradução da coleção: Os Pensadores, Ed. Nova cultural, São Paulo, 1999.

Kant, I.: Da utilidade de uma nova crítica da razão pura (resposta à Eberhardt), Trad. Introdução e notas: Márcio Pugliesi & Edson Bini. São Paulo, Hemus, 1975.

Zingano, M. A.: Razão e História em Kant, São Paulo, 1988.
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terça-feira, 28 de julho de 2009

Citações

"A burguesia vive em guerra perpetua; primeiro, contra a aristocracia; depois, contra as frações da própria burguesia cujos interesses se encontram em conflito com os progressos da indústria; e sempre contra a burguesia dos outros países."

Karl Marx e Friedrich Engels, Manifesto do partido comunista
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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sócrates



"Só sei que nada sei"

Vida

- Sócrates nasceu na Grécia, provavelmente no ano de 470 a.C.
- Filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira, tentou seguir a mesma profissão de seu pai enquanto jovem.
- Sua exposa se chamava Xantipa
- Aprendeu Música e Literatura, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico.
- Não se sabe ao certo quem foram seus professores de Filosofia.
- Sócrates conhecia as doutrinas de Parmênides, Heráclito, Anaxágoras e dos sofistas.
- Serviu ao Exército, desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão.
- Gostava de ir a simpósios, sessões de convívio acompanhadas de bebida. Era um bebedor de renome, conhecido por permanecer sóbrio mesmo quando todos na festa já estavam completamente embriagados.
- Quanto à política, foi ele valoroso soldado e rígido magistrado. Mas, em geral, conservou-se afastado da vida pública e da política contemporânea, que contrastavam com o seu temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos, temperados - diversamente dos sofistas, que agiam para o próprio proveito e formavam grandes egoístas, capazes unicamente de se acometerem uns contra os outros e escravizar o próximo.
- A liberdade de seus discursos, a feição austera de seu caráter, a sua atitude crítica, irónica e a conseqüente educação por ele ministrada, criaram descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades pessoais, apesar da sua probidade (integridade de caráter).
- Diante da tirania popular, bem como de certos elementos reacionários, aparecia Sócrates como chefe de uma aristocracia intelectual.
- Foi acusado por Meleto, Anito e Licon, (três figuras importantes da época) de corromper a mocidade, negar os deuses da pátria introduzindo outros e de "pesquisar debaixo do solo e pelos céus", algo considerado na altura como um desafio aos deuses.
- Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria.
- Suas últimas palavras foram: "Devemos um galo a Esculápio".
- Morreu Sócrates em 399 a.C. com 71 anos de idade, em Atenas.

Pensamento

Questões prévias:

1) O que é a “justiça”?
2) O que é virtude?
3) A justiça pode ser ensinada ou não? Por que? Como podemos saber o que é certo ou o que é errado?
4) É possível agir sempre corretamente ou não? É possível aprendermos com os nossos erros? Como?

- Privilegia as questões do ser humano em detrimento da cosmologia.
- A filosofia de Sócrates mantém o caráter especulativo e racional.
- É um filósofo da ética.
- O que é ética:
- Sócrates não podia aceitar a concepção de justiça dos sofistas. Ele acreditava em regras ou normas eternas e intemporais para o procedimento humano. Quando usamos apenas a nossa razão, segundo ele, podemos compreender todas essas normas imutáveis, porque a razão humana é justamente algo eterno e imutável.
- Não deixou nada escrito. Suas referências remetem principalmente a Platão (seu discípulo) e outros escritores contemporâneo a ele (Xenofonte e Aristófanes).
- Aristófanes era crítico de Sócrates.
- Para Sócrates uma vida sem questionamento racional era uma vida que não merecia ser vivida.
- A máxima: “conhece-te a ti mesmo” (nosce te ipsum) escrita no oráculo de delfos é um lema da escola socrática.
- Não há moral sem conhecimento.
- O homem virtuoso não é aquele que age bem mas aquele que age bem mas aquele que sabe o porquê de sua boa ação.
- Interrogar os sres humanos para que eles se conheçam.
- As perguntas não devem ser as mesmas para todas as pessoas, por isso a recusa à escrita (que é fixa).
- O método socrático é o diálogo (chamado de “maiêutica”).
- Um diálogo não possui um roteiro definido (é algo dinâmico).
- Etapas: Ironia e Maiêutica.
- Maiêutica: fazer com que os outros dêem luz a suas próprias idéias.
- Uma famosa frase de Sócrates é: “só sei que nada sei”.
- Só procura o saber quem não o possui.
- Sócrates causou constrangimento aos que eram julgados sábios em Atenas.
- Foi condenado à morte e obrigado a tomar cicuta (um tipo de veneno).

Texto: ciência e missão de Sócrates

- Tema: O julgamento de Sócrates.
- Primeiro: Questionamento sobre acusação de Sócrates (por que estão falando tanto de Sócrates?)
- Resposta de Sócrates: A reputação se deve à ciência humana que ele possui.
- Sócrates é considerado pelo oráculo de Delfos como o mais sabio dentre os seres humanos.
- A pesquisa sobre “o mais sábio” foi feita por Querofonte amigo de Sócrates.
- Sócrates passou a examinar as pessoas tidas como sábias para verificar a resposta do oráculo.
- Não supor saber o que não sabe faz as pessoas mais sábias do que pensar saber o que não sabem.

Questões:

1) Quais são as características da filosofia a partir de Sócrates?
2) Explique a frase: “conheça-te a ti mesmo”.
3) Por que Sócrates não deixou nada escrito?
4) O que é um diálogo? Por que Sócrates escolheu o diálogo como método?
5) O que “maiêutica”?
6) O que é uma pergunta? Para que serve?
7) Explique a frase: “Só sei que nada sei”.
8) Por que Sócrates foi condenado à morte?

Fonte: Apostila (secretaria de educação do estado de São Paulo)
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O universo e o conceito de existência

Professor: Samir Gorsky
Introdução
• Quais os critérios para determinarmos a existência de algo?
• [Estou pensando em um objeto. As pessoas podem me perguntar quais as características desse objeto. Quais perguntas serão importantes para determinar a existência ou não do objeto. Se eu estou pensando em uma caixa vermelha situada em uma floresta na Coréia do Norte. Como posso saber se esta caixa existe ou não? Se eu não souber ao certo em qual lugar da floresta a caixa se encontra. Como poderei verificar a sua existência?]
• Quais os critérios para determinarmos a não existência de algo?
• [Em um determinado momento de nossa existência, acreditamos que o Papai-Noel e o Coelho da Páscoa existem. Depois passamos a acreditar em suas não existências. Por que?]
• [Será que da mesma forma que deixamos de acreditar na existência do Papai Noel também podemos deixar de acreditar na existência de outros objetos?]
• Como fazemos para diferenciar os objetos existentes dos objetos não existentes?
• Cite cinco diferenças entre os objetos existentes e os objetos não existentes.
• Cite cinco semelhanças entre os objetos existentes e os objetos não existentes.
• Quais destes objetos existem quais não existem: Mesa, cadeira, Átomos, Asas, Cavalos, Cavalos com asas, Velhinho, Roupa vermelha, Velhinho com roupa vermelha, Papai Noel, Imaginação, Pensamento, Amor, Ódio, Beleza, os números, etc.
• Historicamente um objeto pode passar da não existência para a existência (Ex: os computadores) assim como da existência para a não existência (Ex: Dinossauros).
• É possível um objeto ter mais existência do que outro. Tem sentido afirmar “isso existe mais do que aquilo”?
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